domingo, 16 de novembro de 2014

A igreja

Calor, muito calor. Dentro da igreja, não tem ventiladores, os padres não conseguiram arrecadar o suficiente do dizimo para comprar pelo menos um. Desde a morte do seu genuíno, os fieis desistiram de Deus naquela cidadezinha no fim de um mundo banhado a areia e escassez  de água, pouca comida e muita pobreza.


A igreja fica localizada no centro da cidade, como a maioria nas redondezas. Uma porta central de madeira velha, marrom escuro, com marcas de mijadas nos cantos é o único acesso. A cor  da estrutura não é tão perceptível, as manchas de musgo já tomaram uma boa parte do rosa salmão que a encobria, pelas laterais quatro janelas, duas de cada lado, que não sentem o que é limpeza há muito tempo, são uma espécie de vidrais coloridos com algumas figuras que só se sabem que são santos pelas coroas que ainda permanecem intactas, o resto é comido pelo musgo e poeira.  Dos dois sinos, só um está tocando, as pessoas não sabem se quando toca foi porque alguém morreu ou se é o horário da missa.
Dentro, ao todo são quarenta e três bancos divididos em uma única nave, a cada lado uma espécie de confessionário que está sem a porta do lado do pecador, assim, poucos naquela cidade tem o hábito de confessar-se. Mais adiante dois blocos que forma uma escada para o altar, de cada estremo uma estrutura de madeira que segura uma vela branca acessa já faz algum tempo. A mesa de madeira coberta por um pano branco manchado de vinho e xixi de rato, sustenta uma bíblia amassada e enrugada com letras apagadas e manchadas.  Ao lado esquerdo uma estrutura se ergue verticalmente para segurar uma bíblia em melhor estado.

Encima, o jesus cristo na cruz, pregado pelos seus braços e pés usando uma coroa de espinhos só se reconhece pelo formato e lugar onde está,  seu rosto não é claro, parte da pintura dos seus olhos e sangue que escorre pela sua coroa não se vê mais. Em seus pés não sobrou mais nenhuma gota de sangue. Na parte direita da cruz o cupim leva a santidade e imortalidade daquele jesus.

Embaixo da cruz, uma cadeira de metal enferrujada em espécie de trono , a cada lado, duas cadeiras menores de plástico. Na parte direita da parede algo pintado de amarelo se sobressai com alguns desenhos em preto, a caixa onde são colocadas as hóstias fica ali, não tem chave, nem algum sistema de abertura, apenas um cadeado velho segurando uma corrente velha de vinte dentes.

O pároco principal, Padre Santini, tem  67 anos de idade e 40 de sacerdócio é um italiano de temperamento forte, seus dogmas ultra conservados, o fazem temido pelos fieis da cidadezinha, por isso dos pouco que se confessam, ninguém gosta de confessar-se com ele. Olhos verdes, barba espessa e dentes amarelos o fazem o cidadão mais diferente daquela cidadezinha, logo quando chegou há um bom tempo, as mulheres solteiras o procuravam em seu quarto para pedir um gostinho daquele fruto proibido. É um homem sábio, porém duro em suas decisões e convicto de que há um Deus que não gosta de sexo, roubo, morte e álcool.

O segundo padre que o acompanha, Amadeus, um senhor de 40 anos, muito integro e dedicado completamente à vida religiosa, é de uma cidadezinha perto dessa cidadezinha, olhos castanhos e cabelo preto enrolado, não é muito atraente, por isso poucas mulheres na vida já tentaram abusar de sua santidade, diferente do Padre Santini.

 Espero que continue...