segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Crônicas de um (m)hotel.


 O MISTÉRIO DO VELHINHO

“ uma hora da madrugada, a pior hora para os sonolentos , o vento frio que vêm do rio afeta meu corpo, os meus olhos ficam pesados e começo  a ter ataques de sono por segundos. Já estou na recepção há 6 horas e o movimento está parado, até agora só entrou 1 casal, um velho de 60 anos mais ou menos, suado, com os dentes amarelados, uma camisa listrada manga curta com manchas amarelas na parte da pança, usa óculos mi graus, um relógio desses baratos, a calça social preta que o acompanha está remendada na parte da frente, ao seu lado uma garota de pelo menos 34 anos se não for mais, morena, cabelo enrolado oleoso, sobrancelha  desenhada com um lápis marrom mal feita, um batom vermelho que ressalta seu olhar maligno junto ao seu vestido( se é que posso chamar aquilo de vestido) que dá bem no limite da sua bunda, realmente ela não é uma modelo, mas para o velhinho é um poço de beleza. Entram rapidamente, o velhinho  me pergunta-  eai meu filho, quanto que é a hora?
 –  são 3 horas por 15 reais
- mas eu só quero 2 horas.
- mas é assim, você paga 3 horas por 15, ou paga 2 horas por quinze, é o pacote completo meu senhor.
- mas que porra! Ta  bom me dá um quarto que não tenha barata, que da ultima vez que eu vim, encontrei uma baratona do tamanho do meu pé no frigobar.

Realmente o velhinho tem razão, no (m) hotel  tem 12 quartos, entre esses  6 são muito bons,  os outros são o mais completo reflexo da sujeira e imundice dentro de um motel. Quando comecei trabalhar na recepção do (m)hotel, o dono me disse –  você tem que analisar o casal ou a pessoa que chegar, se chegar bem arrumada, com cara de rico, tu dá os melhores, agora se for puta ou traficante manda eles pros quartos fudidos, que eram nos quais existia esses ataques de pragas. ( Ele só esqueceu de me disser  qual quarto dar para um velhinho meio sujo e uma puta). Atendendo ao pedido daquele velhinho dou de presente o melhor quarto (o número 6), lá tinha espelho completo no teto, o frigobar gelava bem, não tinha baratas e a TV tinha três canais pornográficos, diferente do resto que só tinha um, há! É claro esqueci de falar que o banheiros não tinha nenhuma cerâmica quebrada. Na hora o velhinho me pergunta – esse é bom mesmo?
- sim senhor, pode confiar.
-beleza, então me veja 4 camisinhas.

 Um pouco desconcertado estendi minha mão até a estante onde estavam as camisinhas e contei em voz alta para conferir se era aquele número mesmo, afinal a gente nunca espera de  um velhinho que aparenta ter em média 60 anos, não caminha muito rápido e sua corcunda faz um ângulo significativo o pedido de 4 camisinhas, no máximo   um copo de leite com açúcar. Após a contagem em voz alta entrego a ele as camisinhas, agradece e pega pela mão a sua prostituta, é  exatamente 1:30 da madrugada, durante 2 horas ouço barulhos estranhos naquele quarto, era uma espécie de gemidos profundos, de prazer, na minha cabeça a tv está muito alta, talvez seja isso, realmente tento achar alguma resposta lógica àquilo, meu ceticismo sexual com o tal velhinho era muito forte, no meu ser, nenhum humano aos 60 anos consegue transar 4 vezes na mesma noite,  e aqueles gemidos continuavam a aumentar, parecesse que houvera uma terceira pessoa naquele quarto 06, e durante 2 horas o meu sono passou, pois o mistério do velhinho  que fazia aquela mulher de vida fácil e feliz gemer como um garotão de 20 anos me consumia, confesso que cheguei até passar pela frente do quarto para descobrir algo. Passando-se as duas horas, vejo o velhinho sair com cara de felicidade, ajeitando a calça, penteando o cabelo, ao contrário a sua companheira parecia cansada, diria até, esgotada, com uma sobrancelha pelo meio e o batom espalhado pelo rosto, o seu salto preto me comunicava que já saiam, chegaram na recepção e o velhinho com um  ar de machão me pergunta - eai quanto que deu com as 4 camisinhas?
- deu 19 reais
De uma carteira suja, cor verde, ele tira uma nota de vinte e diz:
- aquele quarto era bom mesmo hô, gostei de ti, vou vir mais vezes por aqui, mas separa esse quarto só pá mim.
- pode deixar, se estiver desocupado eu coloco o senhor lá.

Dou o troco, e o senhor muito educadamente se despede. Vou ao quarto para conferir se todo está no seu lugar, espelho no teto okey, frigobar okey, vaso sanitário okey, cama, na cama 4 camisinhas usadas espalhadas por toda a extensão do retângulo, ligo para a camareira e peço que vá arrumar o quarto 06.
Busco uma explicação para o mistério daquele velhinho de aparência fraca e suja que transou 4 vezes seguidas naquele quarto, a essa altura ele já era meu ídolo.
De repente a camareira vem rindo com a cesta de lençóis do quarto 06 até mim, e diz:
- hahaha nem sabe o que encontrei nesse quarto 06?
- o quê?
- um restinho de cocaína e um pacote de Viagra vazio."

agradeço pela ideia e incentivo, Alê, Diana Coelho, Daniel Dantas.


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