sábado, 8 de fevereiro de 2014

A PROSTITUTA DO H(M)OTEL

   Atrás do balcão pensando em alguma coisa com certeza nada importante, o que comerei amanhã? Como será que vou morrer? Coisas do tipo futuro improvável,  são 10 horas da noite e Andreia sai do seu quarto, toda “produzida” batom vermelho, salto alto preto, vestido super curto muito menos  do que o exigido pela sociedade, no seu olhar, algo diferente, sim acho que hoje ela cheirou, seu rosto assustado e frenético dizem tudo, meche sua boca regularmente enquanto caminha e cada vez que dá um passo ajeita seu cabelo, como se estivesse meio insegura.
Ao chegar ao balcão me entrega a chave e diz: 
-eai blz?
– blz
– como que tá o movimento?
– meio parado hoje é segunda
– porra é mesmo, cara eu não gosto de sair na segunda, não dá nem pra pagar a metade do quarto, o seu zé falou alguma coisa?
- não, não pra mim.

Então ela se despede e transforma-se na mulher mais sedutora e desinibida do mundo, me pergunto por que ela pergunto pelo seu Zé, dono do hotel, será que ela está devendo algo?
Talvez, a andreia mora aqui desde que comecei  a trabalhar na recepção do hotel, quando cheguei demoramos uma semana para falar, pois eu estava meio envergonhado, não sei de que, é uma ótima pessoa,  toda noite sai para trabalhar como prostituta, fica nas esquinas desoladas pela madrugada e tomadas pelos bêbados ou carentes momentâneos de amor.

Um dia desses sentado na frente, comecei a conversar com ela, me perguntava qual era o real motivo de uma mulher vender-se por sexo, qual era a explicação, porém percebi naquela conversa que atrás de cada problema pessoal existe um problema social. Ela me contou que tinha uma filha de 4 anos que morava no interior do estado e que saiu de lá porque não havia emprego e o conselho tutelar queria tirar a crianças dela, então a deixou com os pais e veio trabalhar na cidade grande.
Após alguns messes o seu zé me perguntou pela Andreia:
- ei cadê a Andreia?
-não sei, acho que está no quarto.
-assim que tu ver ela, manda ela pagar as 2 semanas que tá devendo, se não tiver grana fala que é pra sair amanhã.
-tudo bem

Parei pra pensar em como iria fazer isso, realmente a consciência pesava, porém se eu não falasse talvez meu emprego fosse por água abaixo. É uma hora da manhã, a andreia está meio chapada ao sair, vejo pelo jeito que anda e seu rosto pálido e branco, falo:
-andreia seu zé quer saber quando vai pagar ele
-porra amanhã.
-tudo bem.

Não arrisquei a falar o resto, fiquei com  pena ou vergonha alheia( sofro disso).
O dia passou, a noite passou, o dia passou e assim se foram alguns dias, dessa vez não via a Andreia há 1 semana, achei que seu zé tivesse expulsado ela no horário matutino no qual eu não estava,  porém isso mudou quando seu zé me disse:
- vai lá abrir o quarto da Andreia ela não vem faz uma semana, tira as coisa dela de lá que o quarto te que ser alugado.
-mas ela não vai voltar?
- acho que não.


Fiquei nervoso e pedi pra camareira ir comigo no quarto, afinal não sabia o que me esperava. Entro bem devagar e vejo um quarto sujo, pouca roupa a foto de uma criança encima da mesa, apenas, resto de pó ao lado da tv, muitas camisinhas, a mando embrulhar tudo e levar pra cima. me pergunto o que aconteceu com Andreia, será que a mataram? Fugiu? Morreu de overdose? Até hoje me pergunto o que aconteceu com Andreia.

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